sábado, 19 de abril de 2014

INNER SUNSET TAPE IV - CAOSMOSE

Chegamos!, fornada especial essa que vem por aí! Inner Sunset Tape desvendando espaços e explorando universos musicais diversos continuamente. Hoje temos o Caosmose (Yuri Amaral) remexendo o tacho da psicodelia. Confereaê a entrevista e a mixtape com download liberadíssimo pelo Google Drive; pra você começar na pegada sua noite de sábado! 



Conte-nos um pouco do seu processo caótico/criativo de produção! E esse nome Caosmose, de onde precede?

A produção musical para mim envolve a capacidade de conjugar uma multidão de sensações que servirão de matéria para constituir uma topografia afetiva, uma espécie de geografia não-física, que demarca uma temporalidade e espacialidade próprias. Isto é, conforme organizadas, estas sensações nos dispõem um plano composto de fluxos em variação em relação estreita com nosso corpo e sentidos. Parece estar implicado em todo ato de criação: busca-se numa fonte de matéria inicialmente amorfa uma disposição que, no próprio ato de se constituir, reorganiza nosso modo de relação afetiva com o entorno "colorido" pelo plano material deliberada ou acidentalmente selecionado. Assim, também temos uma descrição de um aspecto imanente da composição musical: esta sublime arte de juntar sons para criar mundos.
Em relação com esse pensamento, encontro o sentido para o nome atual com o qual batizei meu projeto. Caosmose: de uma totalidade dispersa de aspectos, pedaços de sensações (táteis, acústicas etc.), materiais, vibrações, fluxos, variações, gradientes; a uma unidade em perpétua transição de um plano ao outro por movimentos autônomos e orgânicos de conjunção, imbricação e fusão. Trata-se de um neologismo emprestado de um autor muito importante para reflexão, crítica e produção relativa aos campos psi, Félix Guattari. Com uma belíssima exposição deste conceito, o autor citado propõe “um novo paradigma estético”.

Convenientemente, esse termo/nome de batismo do meu projeto também guarda relação homonímica com a república em que moram os pares que recentemente me estimularam a retomar o desenvolvimento de DJ set’s e a trocar experiências sobre música eletrônica, mixagem e modos de produção. Um grande abraço aos meus parceiros da Casa Caos!

De onde surgiu essa paranóia delirante com a música eletrônica, como você foi refinando isso até chegar ao seu atual gosto? 

Acho que não se trata de uma paranóia delirante! Rs. Está mais para uma busca ativa (não uma perseguição sofrida) de vivências quase alucinatórias e psicodélicas por meio de vertentes abertas e intensivas como é o caso da música eletrônica em suas vertentes como Full On, Dark e Progressive, minhas prediletas. Ouso dizer que nestas vertentes todos os sons são passíveis de se tornar música e o turbilhão criado por meio de sua confluência por si só já convoca novas multidões sonoras que se entregam a uma totalidade harmônica, que mistura leveza e densidade, suavidade e agressividade, meditação e catarse etc. Talvez um aspecto do meu interesse tenha se dado por meio de uma passividade vivida: foram os afetos lançados por meio dessa imersão nas atmosferas complexas, porém fluídas e distintas, que a música eletrônica psicodélica proporciona. São os instantes de êxtase espasmódico e a contração introvertida correlata, tanto na dança livremente orquestrada pelo entorno afetivo criado pela música quanto na produção de suas combinações, que foram motor da minha contemplação e aprofundamento na mixagem e produção em música eletrônica.

Quanto ao rastreamento da origem e refinamento do meu gosto, creio não poder precisar exatamente. Acredito que muitas coisas influenciam a composição singular da sensibilidade de uma determinada pessoa. Em parte, temos relações acidentais de contexto. Por exemplo, conta meu pai que ainda no berço, meu compositor favorito era Isao Tomita, compositor de música eletrônica e tecladista japonês, e que eu só dormia quando era exposto ao ritmo e melodia dele. Também ouvi demais da infância à adolescência Kitaro, outro japonês, compositor e multi-instrumentista. Outras influências maiores também vieram do meu contexto principal de escuta e apreciação da música: a minha casa. Os discos do meu pai formaram meu primeiro playground... Entre a música clássica, instrumental, eletrônica, rock progressivo e psicodélico, eu encontrava material para o meu brincar paralelo, às escondidas, em que fingia ser maestro. Mas ao invés de reger para onde e como a música se desenvolveria, era ela que guiava os mais estranhos e engraçados dos meus gestos: germe de um estilo frenético e caótico de dança que eu aperfeiçoei na adolescência, época em que freqüentava compulsivamente as festas rave em Goiânia e proximidades. Rs.

Sabemos que já teve carreira e tudo [hein?!], o que você leva consigo dessa experiência!?

Levo todo um conhecimento e sensibilidade que desenvolvi a respeito das nuances das formas de expressão humana. Pois na música, nada é sem sentido. Pode ser acidental, como falei, mas na medida em que a produção se torna produto, ou seja, quando o gesto criador se separa da coisa criada, cada elemento ganha uma posição autônoma e um sentido próprio no todo. Apesar do preconceito corrente, com a música eletrônica se passa o mesmo – digo isso, pois algumas pessoas não conseguem perceber a qualidade expressiva nela contida –, nela é possível perceber uma evolução característica, que passa pelo desabrochar, um vigorar e um desaparecer. Alguns produtores se esquecem e com isso deixam passar algo de fundamental nesse sentido. É o que leva toda a multiplicidade que a música carrega a ganhar a forma de uma coisa viva, que respira, tem seus êxtases e depressões, seu ímpeto animado e sua fadiga etc. Em suma, todos os movimentos que comportam tanto o cosmos como a própria alma corporificada.

Isso tudo é muito difícil de explicar! Eu sei que chega a parecer até um discurso esquizo (de fato, o é em partes). Mas se trata de um assunto complexo que eu sempre senti mais do que descrevi. Esse é um dos campos em que minha cognição tem mais dificuldade em se apropriar. Para mim parece que isso faz parte de um inconsciente arquetípico, um todo de atravessamentos imanentes que impõe modos não-voluntários de nossa constituição como sujeito psíquico. Perguntar sobre isso me leva a pensar sobre vértices de mim mesmo que eu não posso apreender pela via de uma experiência temática. Talvez por isso seja para mim um estilo de música tão importante existencialmente. Basicamente se trabalha com materiais sonoros em que há quase total ausência de canção, letra ou refrão. É exatamente como dizia aquele poeta dinamarquês: “Where words fail, music speaks.”

Quando um vínculo é criado entre você, a música e o público, que fluxo te toma?

Este é outro tópico igualmente complexo que eu não sei direito como abordar com palavras. Trata-se de um movimento que passa por mim, desde o momento em que estou preparando as faixas a serem tocadas num set até o momento em que as executo e faço a mixagem. Minha relação com a música, como disse antes, é quase alucinatória: vejo linhas, blocos, fumaça, luzes brotando a minha frente conforme ela se desenrola. Numa espécie de imaginação sinestésica, produzo como que desenhos, objetos amorfos, fragmentos de sensação como luzes e até cheiro que vão se formando no espaço que alteram a forma como meu corpo se relaciona com o entorno. É uma brincadeira onipotente em que meu sentir busca atingir o instante perceptual! Acho maneiro quando vejo as pessoas na pista esboçando gestos que buscam tocar e se deixar tocar por essas formas espontâneas criadas pela atmosfera musical. Quando as vejo, por exemplo, de olhos fechados, sei que existe alguma forma particular que estou ajudando a produzir naquele mundo especial que é o dela em seu contato com a música.



Um prazerzaço falar contigo e poder disponibilizar um pouco pro pessoal as vivências dos dj's CasaCaos; integrando as diferentes/exóticas temporalidades/conjunturas/preferências entre nossos gostos: RESPECT! Estou sempre com os poros abertos para os alardes e ensinamentos que partem de ti, sempre grato meu caro; quero agradecer o tempo desprendido e todo o suporte que nos tem prestado!

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Semana que vem temos um convidado de São Paulo, ainda não vou revelar o nome, rs; ao que tudo indica vamos ter uma seleção/gosto ainda não explorado aqui no blog. Mantenham as anteninhas ligadas!

▲TRACKLIST▲
▲ 1//Figure - Deaths Gospel (feat. Brawninoff) ▲ 2//Major7 - Obsession ▲ 3//Captain Hook and Perfect Stranger - Perfect Hook ▲ 4//Thankyou City - New Horizons ▲ 5//Gleb Gold - Feel ▲ 6//Spektre - Give Yourself to Me (Dub Mix)▲ 7//Maelstrom, Ticon - Resolution ▲ 8//Sun Control Species - Bringing the Rain▲ 9// Antix - The Duck Walk▲10// Ticon - Banking Karma ▲

▲DOWNLOAD▲

@elapsed_
@lollaine
@pedroudinyc

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